CÚPULA DAS AMÉRICAS
TERCEIRA REUNIÃO DE MINISTROS RESPONSÁVEIS POR COMÉRCIO
DECLARAÇÃO CONJUNTA
BELO HORIZONTE, MINAS GERAIS, BRASIL
16 DE MAIO DE 1997
INTRODUÇÃO
- Nós, os Ministros Responsáveis por Comércio, representando os 34 países que
participaram da Cúpula das Américas, em dezembro de 1994, nos reunimos em Belo Horizonte
para a III Reunião de Ministros Responsáveis por Comércio, conforme o mandato outorgado
por nossos Chefes de Estado e de Governo na Cúpula das Américas, realizada em Miami.
Examinamos os resultados do programa de trabalho unanimemente acordado em nossas Reuniões
Ministeriais anteriores, realizadas em Denver e em Cartagena das Índias, para preparar as
negociações sobre a Área de Livre Comércio das Américas (ALCA). Reiteramos nosso
compromisso de concluir as negociações, o mais tardar, até 2005 e de fazer, até o fim
deste século, progresso concreto para a realização desse objetivo.
- Examinamos, também, o progresso substancial alcançado na liberalização do comércio
no hemisfério desde a Cúpula das América de Miami. Observamos que esse progresso está
se refletindo na crescente ampliação e aprofundamento dos acordos sub-regionais e
bilaterais existentes; na implementação das obrigações assumidas por nossos países no
âmbito da Rodada Uruguai; na negociação de novos acordos bilaterais e sub-regionais de
livre comércio no hemisfério; na participação de alguns países do Hemisfério
Ocidental na negociação de acordos setoriais de liberalização do comércio no âmbito
da Organização Mundial do Comércio (OMC); e em medidas autônomas de liberalização do
comércio adotadas por países individuais. Reiteramos nosso compromisso de garantir que
todos os nossos esforços para promover o livre comércio no hemisfério sejam
consistentes com nossas obrigações no âmbito da OMC, particularmente o Artigo XXIV do
GATT 1994 e seu Entendimento na Rodada Uruguai e com o Artigo V do GATS. Reiteramos
também o princípio anteriormente adotado de que a construção da ALCA não imporá
barreiras a outros países. Evitaremos, o mais possível, adotar políticas que possam
afetar negativamente o comércio no hemisfério.
- Na II Cúpula das Américas, a ser realizada em Santiago do Chile, em março de 1998,
nossos Chefes de Estado e de Governo terão a oportunidade de examinar a implementação
da ampla agenda social e econômica contida na Declaração de Princípios e no Plano de
Ação de Miami, com vistas a promover a prosperidade de nossos povos. Estamos conscientes
de que a ALCA deve ser negociada levando-se em consideração esses amplos objetivos. Para
tanto, reconhecemos as grandes diferenças existentes em termos de nível de
desenvolvimento e dimensão das economias do nosso hemisfério e consideraremos essas
diferenças em nosso trabalho para construir a ALCA.
- Examinamos o trabalho realizado pelos Vice-Ministros com relação aos vários enfoques
para a construção da ALCA com base nos acordos sub-regionais e bilaterais existentes.
Concordamos em que as negociações da ALCA deveriam iniciar-se em Santiago, em março de
1998, e recomendaremos aos nossos Chefes de Estado e de Governo que assim o façam naquela
oportunidade. Para tanto, na Quarta Reunião Ministerial, a realizar-se em fevereiro de
1998, em São José da Costa Rica, formularemos como se procederá às negociações,
inclusive aspectos como seus objetivos, enfoques, estrutura e localização. Instruímos
nossos Vice-Ministros a manter a prática de realizar três reuniões antes da próxima
Reunião Ministerial sobre Comércio e a submeter à nossa decisão recomendações acerca
das questões acima referidas, na reunião de São José.
ÁREAS DE CONVERGÊNCIA E TEMAS PENDENTES
- Em atenção a nosso pedido, os Vice-Ministros mantiveram amplas discussões
sobre o escopo e a cronologia das negociações. Acolhemos com satisfação as propostas
específicas apresentadas pelas delegações e, após debates abrangentes, acordamos que
existe um grau significativo de convergência sobre princípios e questões fundamentais:
- o consenso constitui o princípio fundamental da tomada de decisão no processo da ALCA,
que procura preservar e promover os interesses essenciais de nossos 34 países de maneira
equilibrada e abrangente;
- o resultado das negociações da Área de Livre Comércio das Américas constituirá um
abrangente empreendimento único (single undertaking) que incorpora os direitos e
obrigações mutuamente acordados. A ALCA poderá coexistir com acordos bilaterais e
sub-regionais, na medida em que os direitos e obrigações assumidos ao amparo desses
acordos não estejam cobertos pelos direitos e obrigações da ALCA, ou os ultrapassem;
- a ALCA será compatível com os acordos da OMC;
- os países poderão negociar e aderir à ALCA individualmente ou como membros de um
grupo de integração sub-regional que negocie como uma unidade;
- atenção especial deveria ser dispensada às necessidades, condições econômicas e
oportunidades das economias menores, a fim de assegurar sua plena participação no
processo da ALCA;
- a necessidade de estabelecer uma secretaria administrativa de caráter temporário para
prestar apoio às negociações;
- o ano de 2005, o mais tardar, como data para a conclusão das negociações.
- Fica estabelecido um Comitê Preparatório constituído pelos 34
Vice-Ministros Responsáveis por Comércio. Nós os instruímos a que intensifiquem seus
esforços para promover o consenso e concluir recomendações sobre os temas pendentes, as
quais submeterão à nossa decisão na reunião de São José. Ademais, instruímos os
Vice-Ministros a que continuem a dirigir, avaliar e coordenar as atividades de todos os
Grupos de Trabalho.
GRUPOS DE TRABALHO
- Agradecemos aos Presidentes dos Grupos de Trabalho pela tarefa por eles
realizada até agora. Instruímos nossos Vice-Ministros a que examinem, em sua próxima
reunião, os relatórios dos Grupos de Trabalho e que aprovem, quando cabível, suas
recomendações, programas de trabalho, áreas de atenção imediata e medidas de
facilitação de negócios. Também tomamos nota dos documentos relacionados no Anexo I,
propostos pelos Grupos de Trabalho e aprovados pelos Vice-Ministros para publicação como
documentos oficiais da ALCA; como tais, já se encontram à disposição do público e
constituem um resultado concreto do trabalho preparatório, em curso, para as
negociações da ALCA. Instruímos os Grupos de Trabalho a que dêem continuidade às suas
tarefas consoante os seus termos de referência acordados. Também os instruímos a que
submetam aos Vice-Ministros, na segunda reunião sob a presidência da Costa Rica,
diferentes alternativas técnicas no tocante a possíveis questões e enfoques de
negociação em suas respectivas disciplinas, as quais deveriam ser consideradas pelos
Vice-Ministros ao elaborarem as recomendações que submeterão à nossa decisão, em
nossa reunião de São José.
- Conforme acordado em Cartagena das Índias, estabelecemos o Grupo de Trabalho
sobre Solução de Controvérsias, cujos termos de referência se encontram no Anexo II. O
Grupo de Trabalho levará em conta a compilação de informações preparada pela OEA, tal
como solicitado em Cartagena das Índias, sobre os mecanismos existentes para a solução
de controvérsias nos acordos sub-regionais e bilaterais do hemisfério.
- Aprovamos a lista de países que presidirão os doze Grupos de Trabalho até a
nossa próxima reunião, na Costa Rica (Anexo III). Eles serão responsáveis pela
coordenação e programação das reuniões dos Grupos de Trabalho, em consulta com os
representantes dos países participantes, bem como pela garantia do cumprimento dos seus
respectivos termos de referência. Lembramos aos Presidentes dos Grupos de Trabalho que o
consenso permanece o princípio operativo do processo da ALCA. Após realizados esforços
diligentes no sentido de alcançar acordo quanto a questões controversas, as posições
diferentes deverão ser encaminhadas aos Vice-Ministros, para sua decisão.
- Recebemos o relatório do Grupo de Trabalho sobre Economias Menores e tomamos
nota da variedade de fatores identificados que poderiam limitar a participação efetiva
dessas economias na ALCA. Estudamos as medidas recomendadas para facilitar sua
integração na ALCA, inclusive a necessidade de políticas internas adequadas,
assistência técnica e cooperação, a fim de facilitar a participação efetiva daquelas
economias no processo da ALCA. Incentivamos o Grupo de Trabalho sobre Economias Menores a
prosseguir com o trabalho em curso e o instamos a que formule sugestões específicas aos
Vice-Ministros quanto a medidas que permitiriam a participação efetiva das mesmas no
processo da ALCA. Solicitamos aos outros Grupos de Trabalho levar em conta, em suas
deliberações, as conclusões e recomendações do Grupo de Trabalho sobre Economias
Menores, a fim de concretizar as oportunidades daquelas economias na ALCA e de elevar seu
nível de desenvolvimento.
- Solicitamos aos Vice-Ministros que, para nossa próxima reunião, nos
recomendem o modo como os Grupos de Trabalho poderiam ser reconfigurados em grupos de
negociação, levando em conta a necessidade de eficiência e a complementaridade de
áreas temáticas.
OUTROS RELATÓRIOS E CONTRIBUIÇÕES PARA A INTEGRAÇÃO ECONÔMICA
- Reconhecemos e apreciamos o apoio técnico e logístico prestado aos Grupos
de Trabalho pelo Comitê Tripartite, bem como a contribuição recebida de organizações
regionais, sub-regionais e multilaterais. Solicitamos ao Comitê Tripartite que continue a
proporcionar apoio analítico, assistência técnica e estudos afins, conforme solicitado
pelos respectivos Grupos de Trabalho. Solicitamos também às instituições participantes
do Comitê Tripartite que prestem assistência a países membros individuais, mediante
solicitação, de acordo com os procedimentos das respectivas instituições. Incentivamos
as instituições regionais, sub-regionais e multilaterais pertinentes a que ofereçam, em
suas áreas de especialização e em atendimento às solicitações dos Grupos de Trabalho
contribuições adicionais em respaldo àquelas tarefas.
- Ademais, acordamos solicitar ao Comitê Tripartite que empreenda um estudo de
viabilidade sobre alternativas para o estabelecimento de uma secretaria administrativa de
caráter temporário para prestar apoio às negociações da ALCA, com base nos termos de
referência constantes no Anexo IV, e que relate suas conclusões aos Vice-Ministros em
tempo hábil para que estes formulem recomendações a serem submetidas à nossa decisão,
em nossa reunião da Costa Rica.
- Recebemos com interesse as contribuições do III Foro Empresarial das Américas
relativas ao processo preparatório das negociações da ALCA, as quais consideramos
possam ser relevantes para nossas futuras deliberações. Reconhecemos e apreciamos a
importância do papel do setor privado e de sua participação no processo da ALCA.
Reiteramos nosso compromisso com a transparência no processo da ALCA. Nesse sentido,
consideramos serem relevantes para nossas deliberações as contribuições oferecidas
pelos setores interessados de nossas sociedades civis, inclusive aqueles dos setores
trabalhistas, e incentivamos todos os países a levá-las em conta por intermédio de
mecanismos de diálogo e consulta.
- A questão do meio ambiente e sua relação com o comércio vem sendo considerada por
nossos Vice-Ministros desde a reunião de Cartagena das Índias e é objeto de discussões
em curso nos âmbitos da OMC e do processo da ALCA. Manteremos esse tema sob
consideração, à luz da evolução dos trabalhos do Comitê de Comércio e Meio Ambiente
da OMC.
- Tomamos nota da "Declaração da Décima Conferência Interamericana de Ministros
do Trabalho, Apresentada na Reunião de Ministros Responsáveis por Comércio, em Belo
Horizonte, em maio de 1997". Reafirmamos nosso compromisso com a Declaração de
Miami e com o parágrafo 4 da Declaração Ministerial de Cingapura, da OMC.
PRÓXIMAS REUNIÕES MINISTERIAIS
- Reiteramos nossa decisão, adotada em Cartagena das Índias, de realizar na
Costa Rica a IV Reunião Ministerial e o IV Foro Empresarial, os quais deverão ocorrer em
fevereiro de 1998. Acolhemos, portanto, com apreço, o oferecimento feito pelo Governo da
Costa Rica para organizar aquelas duas reuniões. Solicitamos que o país anfitrião da
Reunião Ministerial sobre Comércio de 1998 presida as Reuniões Vice-Ministeriais a se
realizarem até então.
- Desejamos expressar nossos agradecimentos ao Governo do Brasil por sua
significativa contribuição no decorrer do último ano, ao organizar e presidir as quatro
reuniões de Vice-Ministros, em Florianópolis, Recife, Rio de Janeiro e Belo Horizonte,
bem como esta Reunião Ministerial, também realizada em Belo Horizonte.
ANEXO I
DOCUMENTOS OFICIAIS DA ALCA APROVADOS PARA PUBLICAÇÃO
- "Acordos de Investimento no Hemisfério Ocidental: um Compêndio" e
"Inventário dos Regimes de Investimento nas Américas", elaborados pelo Grupo
de Trabalho sobre Investimentos (GT-3);
- "Práticas Nacionais sobre Padrões, Regulamentos Técnicos e Avaliação de
Conformidade no Hemisfério Ocidental", elaborado pelo Grupo de Trabalho sobre Normas
e Barreiras Técnicas ao Comércio (GT-4);
- "Compêndio de Legislação sobre Antidumping e Direitos Compensatórios no
Hemisfério Ocidental", elaborado pelo Grupo de Trabalho sobre Subsídios,
Antidumping e Direitos Compensatórios (GT-6);
- "Regulamentos Relativos a Compras Governamentais em Acordos de Integração nas
Américas", elaborado pelo Grupo de Trabalho sobre Compras Governamentais (GT-8);
- "Disposições sobre Comércio de Serviços em Acordos Comerciais e de Integração
no Hemisfério Ocidental" (versão em espanhol), elaborado pelo Grupo de Trabalho
sobre Serviços (GT-10).
ANEXO II
TERMOS DE REFERÊNCIA PARA O GRUPO DE TRABALHO SOBRE SOLUÇÃO DE CONTROVÉRSIAS
- Preparar um inventário sobre os procedimentos e mecanismos de solução de
controvérsias estabelecidos pelos acordos, tratados e esquemas de integração existentes
no hemisfério e os da OMC, anexando os textos legais.
- Com base no inventário mencionado acima, identificar as áreas de convergência e
divergência entre os sistemas de solução de controvérsias no hemisfério, inclusive no
que diz respeito à medida em que foram esses sistemas empregados.
- Trocar pontos de vista, após consultas internas com o setor privado, no que diz
respeito aos mecanismos para incentivar e facilitar o uso da arbitragem e outros meios
alternativos de resolução de controvérsias para a solução de litígios comerciais
internacionais.
- Recomendar métodos para promover a compreensão dos processos previstos no Entendimento
sobre as Regras e Procedimentos que Regem a Solução de Controvérsias, da OMC.
- À luz dos diversos assuntos a serem abrangidos pelo acordo da ALCA e outros fatores
relevantes, trocar pontos de vista sobre possíveis enfoques da solução de
controvérsias previstos no acordo da ALCA, segundo o Entendimento sobre as Regras e
Procedimentos que Regem a Solução de Controvérsias, da OMC.
- Formular recomendações específicas sobre passos a seguir na construção da ALCA
nesta área.
ANEXO III
RELAÇÃO DE PRESIDENTES DE GRUPOS DE TRABALHO
GRUPO ACESSO A MERCADOS
PROCEDIMENTOS ADUANEIROS
E NORMAS DE ORIGEM
INVESTIMENTOS
NORMAS E BARREIRAS
TÉCNICAS AO COMÉRCIO
MEDIDAS SANITÁRIAS E
FITOSSANITÁRIAS
SUBSÍDIOS, ANTIDUMPING E
DIREITOS COMPENSATÓRIOS
ECONOMIAS MENORES
COMPRAS GOVERNAMENTAIS
DIREITOS DE PROPRIEDADE
INTELECTUAL
SERVIÇOS
POLÍTICA DE CONCORRÊNCIA
SOLUÇÃO DE CONTROVÉRSIAS
|
PAÍS EL SALVADOR
BOLÍVIA
COSTA RICA
CANADÁ
MÉXICO
ARGENTINA
JAMAICA
ESTADOS UNIDOS
HONDURAS
CHILE
PERU
URUGUAI
|
ANEXO IV
TERMOS DE REFERÊNCIA PARA UM ESTUDO DE VIABILIDADE DE UMA SECRETARIA ADMINISTRATIVA
DA ALCA
- Tendo em mente a necessidade de minimizar custos e burocracia, o estudo deve identificar
o tipo de instalações, o tamanho e as qualificações do quadro de pessoal e a variedade
dos custos de uma secretaria de caráter temporário durante o processo de negociação. A
Secretaria assumiria as seguintes tarefas em apoio às negociações:
- prestar apoio logístico e administrativo aos grupos de negociação;
- providenciar tradução de documentos e interpretação durante as deliberações;
- arquivar documentos oficiais de negociação; e
- providenciar distribuição e publicação de documentos.
- O estudo deve identificar o custo de locais alternativos para sede da
Secretaria com base em critérios tais como:
- facilidade de acesso (por exemplo, conexões aéreas);
- instalações para reuniões (por exemplo, capacidade para múltiplas reuniões
simultâneas);
- acomodação em hotéis;
- disponibilidade de força de trabalho multilingüe, e
- outras considerações pertinentes.
O estudo deve identificar também o aumento de custo acarretado pela opção de
realizar as negociações em local outro que não a Secretaria, se fosse este o caso.
- O estudo deve levar em conta a necessidade de assegurar que a prestação de
apoio aos grupos de negociação seja separada de qualquer prestação de assistência
técnica aos participantes da ALCA. Deve avaliar os custos relativos de dotação de
pessoal para:
- O estudo deve identificar os requisitos legais para a criação da Secretaria.
Lista de cidades a serem consideradas, no estudo de viabilidade a ser preparado pelo
Comitê Tripartite, como locais alternativos para o estabelecimento de uma Secretaria
Administrativa de caráter temporário para a ALCA
1. Buenos Aires (Argentina)
2. Cidade do México (México)
3. Cidade do Panamá (Panamá)
4. Kingston (Jamaica)
5. Lima (Peru)
6. Miami (Estados Unidos)
7. Rio de Janeiro (Brasil)
8. Santafé de Bogotá (Colômbia)
9. Washington (Estados Unidos)
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