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FTAA.soc/thm/inf/02
September 1, 2003 / 1 de septiembre de 2003
Original: Portuguese / portugués
Portuguese version only / Sólo en portugués
FTAA - COMMITTEE OF GOVERNMENT
REPRESENTATIVES ON THE PARTICIPATION OF
CIVIL SOCIETY / ALCA - COMITE DE
REPRESENTANTES GUBERNAMENTALES SOBRE LA
PARTICIPACION DE LA SOCIEDAD CIVIL
FIRST ISSUE MEETING WITH THE
PARTICIPATION OF CIVIL SOCIETY OF THE HEMISPHERE /
I REUNION TEMATICA CON
LA PARTICIPACION DE LA SOCIEDAD CIVIL HEMISFERICA
CONFEDERAÇÃO DA AGRICULTURA E
PECUÁRIA DO BRASIL – CNA
POSIÇÃO DA CONFEDERAÇÃO DA AGRICULTURA E PECUÁRIA DO BRASIL – CNA SOBRE A
ÁREA DE LIVRE COMÉRCIO DAS AMÉRICAS - ALCA

O QUE É E QUEM REPRESENTA A CONFEDERAÇÃO DA AGRICULTURA E PECUÁRIA DO
BRASIL – CNA ?
A CNA lidera o sistema organizacional do setor produtivo rural – da
agricultura à pecuária, do pesqueiro ao florestal, além do extrativismo
rural. Por lei, cabe à CNA representar os produtores rurais brasileiros,
que hoje somam mais de 5,5 milhões , distribuídos em todos os segmentos da
atividade agrícola.
Vinculada à CNA encontram-se 25 Federações Estaduais de Agricultura e
mais de 2.000 Sindicatos Rurais espalhados por diversos municípios
brasileiros com vocação para a atividade agropecuária. O amplo espectro de
representação da CNA a qualifica como o fórum nacional de discussões e
decisões da classe rural, atuando permanentemente na defesa dos direitos e
dos interesses econômicos-sociais dos produtores rurais brasileiros.
O QUE PENSA A CNA SOBRE AS NEGOCIAÇÕES PARA A FORMAÇÃO DA ÁREA DE LIVRE
COMÉRCIO DAS AMÉRICAS – ALCA.
A CNA entende que para a
consolidação de uma Área de Livre Comércio das Américas justa e
equilibrada é indispensável que se concretizem avanços no processo de
liberalização agrícola no contexto regional. A existência de práticas
protecionistas que distorcem o mercado agrícola regional, como a
existência de subsídios às exportações, barreiras tarifárias e não
tarifárias que impedem o acesso aos mercados e medidas de apoio interno e
garantia de renda, indicam a necessidade de amplas negociações com vistas
ao disciplinamento dessas práticas, evitando que distorçam a
competitividade dos sistemas agrícolas do hemisfério.
Considerando que a agropecuária brasileira é reconhecidamente
competitiva no contexto regional e que associado a esta competitividade o
Brasil é um dos poucos países do hemisfério com grande capacidade de
expansão de área física para ampliação da sua produção, torna-se
indispensável uma aprofundamento do processo de liberalização dos mercados
agropecuários regionais para que o país possa de fato realizar seu
destacado potencial exportador nesta área.
A economia brasileira apresenta
inúmeros setores de grande pujança, dentre eles o setor agropecuário. O
agronegócio responde por cerca de 30% do PIB brasileiro, contribui de
forma fundamental para o bom desempenho da balança comercial e tem grande
capacidade de geração de empregos diretos e indiretos. Estima-se que as
exportações do agronegócio alcancem a cifra recorde de US$ 26 bilhões em
2003, o que representam quase 40% do total das exportações brasileiras.
Considerando que as importações de bens agrícolas estão estimadas em US$ 4
bilhões, o saldo externo do setor deve alcançar US$ 22 bilhões. Assim, o
setor tem uma importância estratégia em qualquer política de
desenvolvimento para o Brasil, pois além da exportação contribuir
fortemente para a geração de emprego e renda, reduz a vulnerabilidade
externa do país e cria a capacidade de importar necessária para sustentar
o crescimento da economia como um todo.
Em termos de emprego, o setor agropecuário é o ramo de atividade
econômica que mais emprega na economia brasileira, sendo responsável pelo
emprego de 15,5 milhões de pessoas, o que representa 20,6% da População
Economicamente Ativa - PEA do País, conforme a Pesquisa Nacional de
Amostra por Domicílios (PNAD) do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE). Além disso, os investimentos realizados no setor tem
uma grande capacidade de geração de emprego. Estudos recentes realizados
pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES mostram
que entre os 10 principais setores da economia brasileira que mais geram
empregos, oito deles têm como base de referência a produção agrícola e
pecuária.
Tais números denotam a importância econômica e social do agronegócio
brasileiro, cujo crescimento futuro depende da abertura crescente de novos
mercados, seja através de acordos bilaterais, regionais ou multilaterais.
Sem novos mercados, a crescente competitividade do setor acabará
redundando em superprodução, preços baixos, queda de renda, etc.
Portanto, a ALCA é vista com uma oportunidade para o agronegócio
brasileiro, desde que represente a eliminação ou a redução significativa
das barreiras e outras restrições de acesso aos mercados agrícolas do
hemisfério. Um acordo de acesso a mercados na ALCA que elimine as tarifas
para todo o universo tarifário agrícola resultará em um substancial
incremento no comércio, uma vez que as tarifas do setor são extremamente
elevadas.
Neste sentido e considerando o atual estágio das negociações da ALCA, a
CNA defende as seguintes propostas:
- Deve ser mantido o atual formato das negociações da ALCA, pois
entende-se que ao tratar num mesmo fórum com todos os países do continente
obtém-se ganhos de escala. O setor privado entende que não pode ser
abandonado o grande esforço negociador realizado até aqui para a
conformação da ALCA. A alternativa 4+1 (Mercosul + EUA) só vale a pena ser
examinada caso fracassem as negociações da ALCA, o que somente poderá
avaliado em 2005. Para o agronegócio brasileiro interessa negociações
abrangentes e não limitadas. A experiência mostra que até hoje não se
conseguiu qualquer avanço substancial na melhoria do acesso ao mercado
para os produtos agrícolas brasileiros em negociações de alcance parcial.
Fatiar as negociações, além de limitar os ganhos, pode excluir a
agricultura dos acordos;
- O ideal para o agronegócio brasileiro seria a eliminação completa de
todas as barreiras e subsídios agrícolas. Sabe-se, contudo, das
dificuldades em atingir este objeto sem negociações amplas no contexto
multilateral. Portanto, a CNA entende que é necessário realismo nas
negociações, definindo-se prioridades e estratégias que maximizem os
ganhos de comércio para o setor. Desta forma, a CNA recomenda que as
negociações agrícolas na ALCA priorizem a área de acesso a mercados
(tarifas). Já existem estudos que indicam que os maiores ganhos de
comércio advém da completa eliminação de todas as tarifas que incidem no
comércio agrícola hemisférico, enquanto que as outras medidas que afetam o
comércio (apoio doméstico, subsídios às exportações e outras medidas de
efeito equivalente) tem efeito apenas marginal no aumento das exportações
dos países Latino Americanos e do Caribe
(*);
- Todavia, não se pode desprezar o tratamento destes temas. A CNA defende
a tese de que estas medidas sejam tratadas pragmaticamente nas
negociações, de maneira a evitar distorções adicionais dentro de uma área
livre de tarifas. Assim, sugere-se que o tratamento destes temas na ALCA
evoluam de um enfoque principista e genérico para uma análise mais
limitada de políticas e produtos que poderiam causar danos no hemisférico.
Na verdade, o que deve ser buscado é a eliminação dos subsídios às
exportações dentro da ALCA – o que já parece haver razoável consenso - e
neutralizar o efeito exportador das políticas domésticas. Para tanto, a
CNA recomenda que seja analisada a proposta de adoção de um sistema de
solução de controvérsias e de defesa comercial na ALCA, do tipo “OMC
Plus”, para o tratamento das outras medidas que distorcem o comércio;
- Em relação à lista de ofertas de bens agrícolas, a CNA defende a
proposta que todo o universo tarifário deve ser negociado e desgravado.
Este princípio, embora já decidido pelo Comitê de Negociações Regionais –
CNC e explicitado em várias Declarações Ministeriais da ALCA, não foi
respeitado por vários países na apresentação das suas listas iniciais de
oferta. É imprescindível, portanto, que na apresentação da lista de oferta
revisada este princípio seja respeitado;
- A CNA defende, ainda, a necessidade de se definir rapidamente alguns
temas pendentes de métodos e modalidades das negociações agrícolas. Em
particular, é fundamental que se defina o prazo de desgravação da
categoria “D” (acima de 10 anos), pois é necessário ter clareza sobre o
horizonte de desgravação tarifária de vários produtos agrícolas incluídos
nesta categoria;
- Especificamente sobre a oferta dos EUA na área de bens agrícolas, é
necessário esclarecer qual o tratamento que será dado aos produtos
agrícolas considerados sensíveis e incluídos no Trade Promotion Authority
– TPA. A ausência de clareza sobre o processo de consulta às comissões do
Congresso Americano, introduz no processo negociador um elemento de
insegurança e incerteza, dado que não se tem previsibilidade sobre as
concessões que, de fato, serão feitas pelos EUA.
(*) Monteagudo, Josefina e Watanuki,
Masakazu. Evaluating Agricultural Reform Under the FTAA and Mercosur-EU
FTA for Latin America. A Quantitative CGE Assessment. Inter-American
Development Bank, Washington, DC. September 2002.